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09/10/2023em Direito Empresarial Videos
Empresas podem aumentar resultados diminuindo a carga horária?

Pesquisas indicam que a semana reduzida podem ser a solução de muitas empresas para proporcionar motivação e produtividade

Você já presenciou algum colega de trabalho enrolando nas atividades? Ou você mesmo já postergou entregas porque a situação era de cansaço ou falta de vontade? Por incrível que pareça, isso é bastante comum. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela empresa americana Visier, especializada em soluções tecnológicas para recursos humanos, demonstra “enganar” na entrega do trabalho ocorre devido a um cenário de crescente pressão por maior produtividade.

Funcionários fingem que estão trabalhando para parecerem úteis, evitar demissão, conseguir uma promoção ou, até mesmo, escapar de mais trabalho. De acordo com a pesquisa, entre os principais motivos para fingir que trabalham, 64% citam que é importante para o sucesso profissional e 41% afirmam querer parecer valioso para a empresa. A pesquisa foi realizada em fevereiro deste ano e consultou mil trabalhadores em tempo integral, seja de forma presencial, híbrido ou home office.

Ao longo de uma semana média de trabalho, 22% dos entrevistados disseram gastar quase metade do tempo de trabalho (20 horas) em funções que não contribuem de verdade para a empresa. Além disso, 83% admitiram realizar tarefas pouco úteis, mas que dão a impressão de serem importantes, em vez de se dedicar a outras com resultados significativos.

Mas por que esse resultado tão alarmante? Em outra pesquisa, feita pela consultoria Robert Half, 89% das companhias reconhecem que bons resultados estão diretamente ligados à motivação e à felicidade dos colaboradores. Neste estudo, dos profissionais entrevistados, 79% afirmaram que se sentem felizes com as atividades que executam. Mas aqueles que estão infelizes, assumem que o sentimento gera consequências no dia a dia. Para eles, os principais impactos são a falta de motivação, implicações psicológicas, forte abertura a novas oportunidades de trabalho, baixa proatividade e postura pouco empática com colegas de equipe.

Conforme os 1.161 entrevistados, o papel dos líderes na consolidação da felicidade é extremamente relevante, pois 94% deles acreditam que a satisfação é influenciada pela atuação da liderança. Desse grupo, 50% não só fazem essa associação, como consideram ser um ponto essencial na conquista da felicidade no trabalho.

Em 2019, uma iniciativa realizada na Nova Zelândia ganhou força na pandemia de Covid-19 e se espalhou por países da Europa, África e América do Norte. O movimento “4-Day Week” que busca implantar a semana de quatro dias de trabalho. No Brasil, empresas de diferentes ramos já estão inscritas. Conforme o movimento, já são quase 500 companhias pelo mundo testando a modalidade de jornada em que o profissional continua recebendo 100% do salário, mas trabalha 80% do tempo. Em troca, se compromete a manter 100% de produtividade, no modelo que ficou conhecido como 100-80-100.

Para Natália Guazelli, advogada especialista em Direito Empresarial, um trabalhador satisfeito vai produzir mais e melhor. 

“Acredito na possibilidade de novos formatos de trabalho e na transformação das relações. Projetos como esse podem ajudar no amadurecimento dos colaboradores, pois saúde e motivação podem se reverter em maior produtividade”, explica.

As empresas participantes do movimento decidem como vão implantar o programa e quantos departamentos entrarão na fase do projeto-piloto. Com a ajuda da “4-Day Week Global”, as companhias iniciaram, em 5 de setembro, as primeiras reuniões nas quais apresentaram os conceitos e os passos essenciais para a entrada ao projeto. Para Natália, esse período de preparação e adaptação é muito necessário.

“Deve-se ter muito cuidado, pois a ideia não é só propor uma redução da carga de trabalho, mas sim investir em um novo modelo de negócios em que as empresas devem dedicar tempo para entender as necessidades dos funcionários, ajustar contratos e incluir resultados”, complementa.

Segundo o movimento, este período é de três meses, a partir das primeiras reuniões realizadas em setembro. O início dos trabalhos ficou para dezembro, com duração de até seis meses, totalizando nove meses de duração. Para as empresas participantes, dentre os números apresentados, 36% registraram alta nos resultados comparados ao ano anterior, 42% tiveram uma diminuição nas demissões, 68% apontaram redução do esgotamento de funcionários, 54% reconheceram aumento na produtividade e 63% descreveram maior facilidade para atrair talentos.

“Com mais saúde mental, emocional e motivação, pode-se encontrar maior produtividade e lucro para as empresas, além da busca de novos talentos. Já foi comprovado que quando a organização deixa de lado a sobrecarga de trabalho e resgata a humanidade, tudo se torna mais produtivo”, apresenta Natália Guazelli.

Para que tudo funcione de forma correta, a parte jurídica da empresa deve estar ciente e acompanhando todos os acordos, pois há a necessidade de se esclarecer todas as dúvidas dos trabalhadores, inclusive lembrando dos acordos sindicais, para que o projeto funcione. Testes e novos formatos podem transformar as relações de trabalho e, futuramente, podemos encontrar novas pesquisas com números mais satisfatórios.

 

Confira entrevista concedida pela Dra. Natalia Guazelli para o SBT Paraná.